Política tarifária de Trump: efeitos no comércio global e no custo logístico
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Artigo publicado originalmente no site Valor Investe, elaborado por Camila Affonso sócia do Leggio Group, em parceria com o colunista Carlos Heitor Campani.
O efeito dominó das medidas protecionistas estadunidenses sobre as rotas marítimas e os mercados financeiros
Bom dia, Pessoal! O artigo de hoje foi coescrito com Camila Affonso (sócia do Leggio Group) e seu time de consultores. O Leggio Group é especializado em avaliações de empresas e negócios logísticos, de modo que a intenção da minha parceria é trazer para vocês assuntos específicos, porém relevantes, desta área. Com um olhar mais abrangente, creio que vocês poderão assim fazer análises mais completas e, portanto, melhores. Neste artigo, temos como objetivo examinar os principais impactos qualitativos e quantitativos das recentes políticas tarifárias do governo Trump, com ênfase nos efeitos sobre o comércio marítimo, custos logísticos e até sobre os mercados financeiros. Vamos lá?
As tarifas impostas pelo governo dos Estados Unidos sob a administração de Donald Trump, em 2025, tiveram efeitos profundos sobre o comércio global. Com a reintrodução de medidas protecionistas, especialmente contra produtos chineses, o cenário internacional passou a ser marcado por incertezas, custos elevados e uma reconfiguração intensa das cadeias de suprimentos.
Desde o início de seu novo mandato, Donald Trump retomou uma postura comercial marcadamente protecionista. A imposição de tarifas que chegam a 145% sobre diversos produtos oriundos da China reacendeu a guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo, gerando tensões e incertezas no cenário internacional.
Essa política tarifária tem provocado efeitos sistêmicos no comércio global, com desorganização de rotas tradicionais, aumento de custos e reconfiguração das cadeias de suprimento. Empresas em todo o mundo vêm sendo forçadas a rever suas estratégias logísticas e comerciais diante desse novo cenário.
Mais recentemente, no último dia 12, Estados Unidos e China firmaram um acordo de trégua comercial de 90 dias, reduzindo temporariamente as tarifas em vigor e abrindo espaço para negociações que visam aliviar as tensões entre as duas maiores economias do mundo. Ainda assim, os impactos já se fazem sentir em diversos setores da economia internacional.
No transporte marítimo — responsável por mais de 80% do comércio global em volume (segundo a UNCTAD - United Nations Conference on Trade and Development) — os efeitos dessas medidas foram particularmente imediatos e substanciais, como será apresentado a seguir com base nos dados mais recentes. Um efeito imediato adicional das tarifas foi o aumento dos custos logísticos, especialmente nas rotas entre a Ásia e os Estados Unidos.
Essa mudança no fluxo comercial influenciou diretamente os custos de transporte de contêineres, que passaram a refletir a nova configuração das cadeias de suprimento.
Até o anúncio das novas tarifas comerciais pelos Estados Unidos, em 2 de abril, os valores de frete marítimo para contêineres de 40 pés com destino ao porto de Long Beach (EUA) apresentavam relativa paridade entre as rotas originadas em Xangai (China) e Saigon (Vietnã). Entretanto, entre os dias 11 e 22 de abril, após a divulgação da medida, observou-se uma divergência nas cotações: o frete no trecho Saigon–Long Beach foi elevado para aproximadamente US$ 4.500, representando um aumento de cerca de 15%, enquanto o valor da rota Xangai–Long Beach recuou para cerca de US$ 3.100, configurando uma queda de aproximadamente 20%.
Esse cenário evidencia uma reação do mercado internacional à redistribuição dos fluxos de carga, com transportadoras e operadores sendo forçados a adaptar seus modelos operacionais de forma ágil e contínua. A elevação das tarifas sobre produtos chineses exportados aos Estados Unidos impulsionou a busca por origens alternativas, sendo o Vietnã um dos principais destinos escolhidos para mitigar os impactos regulatórios, intensificando a desorganização e o desequilíbrio nas cadeias logísticas globais.
Com a recente trégua comercial entre os Estados Unidos e a China, as taxas de frete entre a Ásia e os EUA voltaram a subir. Por exemplo, de acordo com a Drewry, entre os dias 8 e 15 de maio, a rota de Xangai para Nova York registrou um aumento de 19%, alcançando US$ 4.350 por contêiner, enquanto a rota de Xangai para Los Angeles teve alta de 16%, chegando a US$ 3.136 por contêiner.
Essa reorientação dos fluxos comerciais teve um impacto direto nos volumes transportados entre China e Estados Unidos, resultando em quedas nos embarques de diversos produtos. Para ilustrar essa mudança, o gráfico a seguir apresenta a evolução da movimentação de mercadorias entre os dois países ao longo de fevereiro a abril.

A redução nas exportações da China para os Estados Unidos intensificou-se, resultando em uma queda aproximada de 45% no volume de contêineres movimentados. Esse declínio está associado aos efeitos diretos da política tarifária, que impactaram a demanda por produtos chineses e levaram à diminuição da utilização de rotas comerciais tradicionais. Tal retração contribui para a reconfiguração das cadeias logísticas globais, gerando desequilíbrios operacionais, elevação de custos no transporte e aumento da volatilidade nos fluxos comerciais internacionais.
Como as tarifas elevam os custos das importações, espera-se que pressionem os preços para cima, contribuindo para um aumento da inflação no médio prazo. Esse cenário de incerteza também se refletiu no comportamento dos mercados financeiros, como pode ser observado na evolução dos índices Nasdaq e S&P 500 no gráfico a seguir.

A imposição de tarifas pelo governo gerou um ambiente de elevada incerteza para empresas que dependem do comércio internacional, sobretudo as multinacionais listadas em índices como o S&P 500 e o Nasdaq. Esse cenário provocou uma reação imediata e negativa nos mercados financeiros, impulsionada também pelo temor de retaliações por parte de parceiros estratégicos como China e União Europeia, elevando o risco de uma guerra comercial e comprometendo as perspectivas de crescimento econômico global. Além disso, as tarifas encareceram insumos importados, pressionando as margens de lucro das empresas e deteriorando suas projeções de desempenho, o que se refletiu na queda expressiva das ações.
No entanto, mais recentemente, os mercados passaram a registrar uma recuperação, impulsionada pelo anúncio de alívios tarifários e, principalmente, pela formalização de um acordo comercial entre os Estados Unidos e a China. Esse avanço reduziu o clima de incerteza, sinalizou uma possível estabilização nas relações comerciais e contribuiu para a retomada da confiança dos investidores, refletindo-se na valorização dos índices NASDAQ e S&P500.
Em suma, as tarifas impostas pelos Estados Unidos provocaram impactos profundos no comércio global, elevando custos logísticos e reduzindo volumes comerciais entre as duas maiores economias mundiais. Essas medidas alteraram as cadeias de suprimento e geraram incertezas que exigem adaptação estratégica de empresas e governos. O acordo de redução e trégua de 90 dias entre EUA e China é um passo inicial para reduzir tensões, mas o futuro do comércio internacional ainda apresenta desafios significativos, cujo desenrolar merece atenção contínua nos próximos meses.
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