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Investimento em dutos pode incentivar competição no mercado de refino



Diante da abertura do mercado de refino no Brasil, impulsionada pelo Plano de Desinvestimento da Petrobras – que prevê vender outras sete refinarias, além da RLAM, comprada pelo fundo Mubadala –, novos investimentos serão demandados. Para contribuir com este avanço na logística de combustíveis no Brasil, a Leggio desenvolveu um estudo sobre rotas regionais de dutos para escoamento de derivados de petróleo em diferentes locais do país.


O objetivo deste estudo é avaliar o potencial de trechos que possam permitir a concorrência entre as refinarias que estão sendo vendidas pela Petrobras, ampliando a competição no mercado de refino nacional. Inicialmente foram levantadas seis possibilidades de rotas, mas a análise se concentrou em três delas, que demonstraram viabilidade técnica e potencial de implantação.





Como premissas neste estudo, para gasolina e etanol, foi considerado um crescimento na demanda de ciclo de Otto de 1,8% a.a. até 2030 Também é esperado um crescimento na demanda de ciclo de diesel de 1,3 % a.a. até 2030 – mantendo-se 15% de biodiesel no diesel B, a partir de 2023.


Na oferta foi considerado um aumento de utilização média da capacidade de refino no Brasil atingindo 87% em 2025, além de crescimento de 2,07% a.a. na produção de etanol no mesmo período.


O estudo foi realizado considerando que o mercado brasileiro utilizará o preço de paridade de importação: preço de aquisição em Houston, frete marítimo, tarifa portuária e custo de internalização até o polo de venda (frete rodoviário).


Para realizar o estudo, utilizou-se um Modelo de Otimização de Derivados e Biocombustíveis, que considera custos de aquisição de produto, logísticos e tributários. Ao gerar e permitir a análise de cenários de movimentação de produtos no Brasil, esta metodologia possibilita encontrar soluções para minimizar o custo total para abastecimento dos municípios.



O primeiro trecho analisado interliga a REFAP em Canoas/RS até Lages/SC, com extensão de 250 km. Um duto com diâmetro de 12” poderia movimentar cerca de 2,16 milhões de m3 de derivados por ano, o que permite expandir a área de influência da REFAP, ampliando o volume de vendas de diesel e gasolina em até 20,6%. Neste cenário, o suprimento de bases em Lages se tornaria mais competitivo, com custos inferiores ao de outras infraestruturas na região, como a movimentação por ferrovia na Malha Sul e transporte rodoviário a partir do duto OPASC ou terminais marítimos, todos os casos movimentando produtos com origem no Paraná.



A Segunda rota estudada interliga a REGAP em Betim/MG até Montes Claros/MG, com 360 km de comprimento. Em um duto com diâmetro de 8” podem ser escoados cerca de 800.000 m3/ano, ampliando a área de influência e o volume de vendas da REGAP em até 10,5%. O volume capturado pelo duto competiria com derivados que chegam atualmente à base de Montes Claros, via modal ferroviário através da FCA com origem na RLAM na Bahia.


A última rota avaliada abrange três trechos, da RLAM em Candeias/BA a Maceió/AL, deste ponto até a RNEST e seguindo até Cabedelo/PB, totalizando 800 km. Para um diâmetro mínimo de 8”, o volume movimentado por trecho seria de aproximadamente 800.000 m3 por ano. O aumento da área de influência da RLAM representaria um aumento 11,4% no volume de vendas. No caso da RNEST não haveria aumento da área de influência ou volume, no entanto espera-se um aumento de margem do refinador em função do uso de modal dutoviário em comparação com os custos de cabotagem.


Apesar de conectado a duas refinarias independentes entre si, existe a viabilidade do compartilhamento do duto: a RLAM movimenta gasolina e diesel para Aracaju e gasolina para Maceió e Cabedelo, enquanto a RNEST envia diesel S10 para os três mercados. Este duto poderia substituir o fluxo via cabotagem com origem em Madre de Deus e Suape, com destino a Maceió e Cabedelo, ou o transporte rodoviário para as três localidades.






Como apresentado, os resultados permitem visualizar a possibilidade de competição entre refinadores em um mercado aberto no Brasil, e neste caso utilizando os investimentos privados em infraestrutura dutoviária para ampliação da área de influência das refinarias. Importante notar que os investimentos em dutos são suportados por aumento de vendas. Mais uma vez se reforça a necessidade de um mercado com preços livres, refletindo o mercado internacional destas commodities, para que possam haver investimentos tanto em produção quanto em infraestrutura logística no Brasil.


Artigo produzido pelo sócio Marcus D’Elia e publicado com exclusividade pela Revista Brasil Energia. Este estudo foi elaborado para o evento Rio Pipeline 2021 e apresentado no painel “Perspectiva do setor dutoviário: organização do transporte e logística de dutos de líquidos”.

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