Conheça a mais nova Jr. Oil atuando no mercado brasileiro
Artigo publicado originalmente no site Valor Investe, elaborado por Camila Affonso, Joseph Boukai e Pedro Gosling, do Leggio Group, em parceria com o colunista Carlos Heitor Campani.
Olá, pessoal. Com o intuito de compartilhar com todos vocês análises em diferentes nichos econômicos com razoável nível de profundidade, este artigo segue fruto da minha parceria com o Leggio Group: ele foi coescrito com a Camila Affonso (sócia), Joseph Boukai (consultor) e Pedro Gosling (consultor). Vamos analisar a mais nova empresa do mercado brasileiro de óleo e gás: a Seacrest Petroleo (assim mesmo, sem o acento!).
A Seacrest Petroleo é uma empresa independente de produção de petróleo e gás com um portfólio integrado de campos de produção de petróleo e infraestrutura de exportação no estado do Espírito Santo. A Companhia tem controle exclusivo sobre suas infraestruturas, desde os campos de produção até o terminal de carregamento dos navios.
Em 2019, a Seacrest Petroleo foi fundada pelos cofundadores do Grupo Seacrest, Erik Tiller e Paul Murray. Ambos também são sócios da OKEA, petroleira Norueguesa listada na bolsa de Oslo. O grupo segue uma estratégia similar no Brasil, tendo vislumbrado oportunidades potenciais no mercado brasileiro após o programa de desinvestimentos da Petrobras, que teve início há alguns anos durante o governo Temer.
A estratégia consiste na compra de campos terrestres de produção de petróleo (além de seus ativos logísticos associados) com o objetivo de aumentar sua produção e reduzir os custos de extração e transporte, consequentemente aumentando seu volume e margem de lucratividade da operação.
No dia 23 de fevereiro de 2023, a Seacrest Petroleo concluiu seu IPO (Initial Public Offering – Sigla em inglês para “Oferta Pública Inicial”) na bolsa de Oslo, na Noruega, avaliada em US$ 383 milhões (post-money) de patrimômio líquido. Nesta oferta, a empresa levantou US$ 260 milhões, além de US$ 300 milhões em dívidas com bancos brasileiros. A empresa negocia sob o código “SEAPT”.
Vale destacar que à época do IPO, a Mercuria Energy Group Limited investiu diretamente na empresa, ficando com cerca de 30% da Seacrest Petroleo após a conclusão da oferta. A Mercuria é um dos principais traders de bunker fuel do mundo e realizou o investimento no negócio porque este tipo de petróleo premium (chamado de "heavy sweet crude") é produzido nos campos da Seacrest Petroleo. Aliás, grande parte do volume produzido é adquirido pela própria Mercuria, o que reduz parte da incerteza do negócio.
Em 27 de agosto de 2020, a Petrobras anunciou a venda do Polo Cricaré (no Espírito Santo) para a Seacrest Petroleo por um valor de aproximadamente US$ 155 milhões, compreendendo 27 campos terrestres. A venda em sua totalidade (após a conclusão do período de transição operacional da Petrobras para a Seacrest) ocorreu em 29 de dezembro de 2021.
No primeiro trimestre de 2022 foram produzidos 829 boepd (Barrels of Oil Equivalent Per Day – Barris de Óleo Equivalente por Dia) neste polo, sendo 801 boepd de óleo e 28 boepd de gás. Pelo gráfico abaixo, podemos perceber que desde então a Seacrest tem conseguido aumentar consistentemente a sua produção, tendo praticamente a aumentado em quatro vezes. Neste terceiro trimestre de 2023, a produção alcançou 3.208 boepd. Para este último dado de produção, até o presente momento, temos disponível apenas o volume total, sem a subdivisão por óleo e gás.
Fig. 1 - Produção – Polo Cricará
Em 23 de fevereiro de 2022, a Seacrest realizou a aquisição do Polo Norte Capixaba, também situado no Espírito Santo, por US$ 554 milhões, compreendendo 4 campos terrestres e o Terminal Norte Capixaba. O polo correspondia a 3,3% da produção da Petrobras naquele estado. Vale ressaltar que a Petrobras utiliza como estratégia a venda de seus ativos de produção associados aos ativos logísticos na mesma oferta, assim como fez neste caso, incluindo o Terminal Norte Capixaba e os dutos na negociação.
A venda em sua totalidade (também após a conclusão do período de transição operacional da Petrobras para a Seacrest) ocorreu em 13 de abril de 2023. No primeiro trimestre de 2023 foram produzidos 4.778 boepd, sendo 4.641 boepd de óleo e 137 boepd de gás. Já no terceiro trimestre de 2023, a produção foi de 5.996, um aumento acima de 25%.
Fig. 2 - Produção - Polo Norte Capixaba
Assim, ao se analisar a produção consolidada por ativo, percebemos que nos momentos de aquisição completa dos polos, isto é, após a conclusão do período de transição operacional entre a operação da Petrobras para a Seacrest (Cricaré em dez/21 e Norte Capixaba em abr/23), esta vem conseguindo aumentar a produção dos campos. A produção total dos polos no terceiro trimestre desse ano se encontra em 9.204 boepd, sendo 65% derivado do polo Norte Capixaba e os outros 35% do polo de Cricaré, conforme indica a figura abaixo.
Fig. 3 - Produção Consolidada por Ativo
Na bolsa brasileira, este setor era historicamente dominado pela Petrobras, entretanto, atualmente já temos outras empresas de menor porte listadas, como por exemplo a Petroreconcavo (Ticker: RECV3), a 3R Petroleum (Ticker: RRRP3) e a Petrorio (Ticker: PRIO3). Por mais que a Seacrest esteja listada na bolsa de Oslo, seus ativos estão inseridos no mercado nacional, tornando-a uma das mais recentes petroleiras a levantar recursos em bolsa para investir neste setor no Brasil. Quem sabe um BDR (Brazilian Depositary Receipt – ativo representativo da ação original da Seacrest Petroleo negociado na bolsa brasileira) não vem por aí, facilitando o acesso do investidor pequeno.
A fim de se realizar um paralelo da ordem de grandeza das empresas, comparamos a produção da Seacrest com a da Petrobras. Percebemos que a representatividade da produção da Seacrest é muito pequena comparada ao volume produzido pela Petrobras. Isso implica em diferentes visões a respeito dos ativos. Estes ativos não eram o foco da Petrobras pela sua baixa representatividade em relação ao total da sua produção e por isso não estavam sendo otimizados. Já para a Seacrest tais campos são vistos de forma preciosa, como uma oportunidade de desenvolvimento e otimização da sua produção. Esse aspecto, aliás, corrobora o acerto da gigante brasileira em se desfazer dos campos citados.
Fig. 4 - % Produção Seacrest Petroleo x Petrobras
Analisando seu histórico público de resultado financeiro no gráfico a seguir, percebemos um aumento de praticamente seis vezes da receita ao comparar o 1º trimestre de 2023 (8,8MM USD) com o 2º trimestre de 2023 (53,2 MM USD), explicado pela aquisição do polo Norte Capixaba. Outro ponto de grande relevância no mais recente resultado é a transição do EBITDA de um patamar negativo para positivo, um feito inédito na história da empresa, atingindo a marca de 1,5 milhões de dólares. Entretanto a empresa segue gerando prejuízo operacional, o qual veio aumentando nos últimos 3 resultados.
Fig. 5 - Resumo Financeiro
De acordo com informações da empresa, no curto prazo, o foco da Seacrest será o desenvolvimento dos dois polos adquiridos, de forma consistente com a sua estratégia. Entretanto, no longo prazo a empresa enxerga oportunidades de novas parcerias com a Petrobras, não necessariamente na aquisição total de mais campos, mas tornando-se sócia no desenvolvimento de alguns deles e assim gerar valor adicional.
Nossa ideia com esse artigo foi fornecer uma perspectiva sobre como a Seacrest Petróleo está se posicionando no mercado nacional de óleo e gás. Por óbvio, a análise aqui é apenas parcial e não deve servir de fonte única de informação para eventual tomada de decisão de investimento. É importante ressaltar que as informações financeiras e avaliações apresentadas não devem ser interpretadas como recomendações de investimento.
Nosso objetivo principal é promover o entendimento do contexto e o debate acerca da companhia por aqueles interessados. Queremos incentivar discussões que levem a análises sólidas, permitindo a cada um de vocês tomar as melhores e mais adequadas decisões de investimento.
Link do artigo publicado no Valor Investe: https://valorinveste.globo.com/blogs/carlos-heitor-campani/coluna/analise-da-seacrest-petroleo.ghtml
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