Com o objetivo de aumentar o grau de segurança no suprimento do diesel no longo prazo é necessário discutir as possibilidades de substituição energética deste combustível, ou seja, novas tecnologias de motorização e de combustíveis para as aplicações atuais. Claramente a substituição da frota à diesel será gradual ao longo das próximas quatro décadas, mas em duas ondas com perfis distintos.
As projeções indicam que o máximo de consumo para diesel ocorrerá na década de 2040, no cenário apresentado em 2047, pois o crescimento do transporte de produtos e passageiros seguirá ocorrendo no país, assim como o uso em equipamentos agrícolas, responsáveis por cerca de 80% e 15% do consumo, respectivamente. Além disso, as formas de motorização neste período ainda utilizarão o diesel com intensidade, mesmo com a obrigação de compensar suas emissões de carbono. Após o ponto de máximo espera-se que a redução de consumo ainda seja gradual, em função da velocidade de entrada de novas tecnologias que buscarão emissão zero.
Portanto, a expectativa é que haja duas ondas distintas para substituição energética do diesel, na primeira onda, até a década de 2040, a substituição energética do diesel terá como principal propósito a redução parcial das emissões de CO2 associada a instrumentos de compensação de emissões no transporte. Em uma segunda onda, a introdução de novas motorizações com o objetivo de eliminar as emissões de CO2 deverá prevalecer, impondo o uso de outras soluções tecnológicas que irão se consolidar ao longo da década de 2040 para introdução com maior intensidade na década de 2050.
Fig. 2 Projeção da Demanda de Diesel A no Longo Prazo
Neste caso, mesmo no longo prazo, a preocupação com a garantia do suprimento de diesel se renova. A formulação de políticas públicas que venham a garantir a substituição energética esperada nas duas ondas no período de 2025 – 2060 deverá ser o principal instrumento utilizado para solucionar a questão da demanda por diesel no longo prazo, reduzindo efetivamente seu consumo mesmo com o aumento da movimentação de produtos e produção agrícola. A curva original apresentada na projeção indica um crescimento de 48% no período, caso se mantenham as condições de mercado e regulatórias atuais, valores que aumentariam substancialmente o risco de suprimento para o país.
AÇÕES NECESSÁRIAS
Considerando o cenário apresentado, as ações necessárias para iniciar a primeira onda de substituição energética por tipo de aplicação, reduzindo o consumo de diesel A, seriam:
1- Incentivos ao desenvolvimento e maior participação de biocombustíveis (biodiesel e HVO) no transporte de cargas e passageiros;
2- Incentivo para a migração da frota de veículos de carga e passageiros em longa distância para motorizações híbridas;
3- Incentivo para migração da frota de caminhões leves em aplicação urbana para motorizações elétricas ou híbridas;
4- Incentivo para migração da frota de ônibus urbanos para motorizações elétricas ou híbridas.
5- Incentivo para migração da frota de equipamentos agrícolas para motorizações a biometano.
6- Definição de metas de descarbonização para o transporte rodoviário de cargas e passageiros, individualizada e por percurso realizado.
No caso da segunda onda de substituição energética do diesel, que deverá ocorrer somente a partir da década de 2040, o incentivo a tecnologias plenamente comerciais neste período que garantam a emissão zero de CO2 para transporte rodoviário e para equipamentos agrícolas deverá ser o último grupo de medidas que efetivamente levará a redução do consumo de diesel, finalizando o processo de substituição do produto, que será gradual ao longo das décadas seguintes.
Importante reforçar que a preocupação com a capacidade de suprimento e resiliência das fontes de energia que irão substituir o diesel deverá ser um requisito relevante para a implementação destas novas motorizações, evitando a repetição dos riscos existentes atualmente no suprimento de diesel.
A questão da segurança no suprimento energético, tomando o caso do diesel S10 como referência, deve ser analisada com soluções diferentes para cada horizonte de tempo, aplicadas de forma coordenada, e sempre com a visão de criar resiliência no suprimento das fontes de energia. Incorporar este critério no planejamento do suprimento de energia ao longo do tempo, seja para diesel ou futuros substitutos, é essencial para que soluções eficazes e de menor custo para a sociedade sejam escolhidas.
Por Marcus D´Elia, sócio-diretor da Leggio Consultoria, especializada em Petróleo, Gás e Renováveis
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